terça-feira, 30 de junho de 2020

Ciência dos materiais no dia a dia: a diferença entre vidros e cristais


Certa vez fui ao supermercado e me deparei com algumas taças aparentemente de vidro numa prateleira na seção dos artigos e utensílios domésticos. Porém, ao esmiuçar um pouco mais, pude ver que não se tratavam de taças comuns: eram taças de cristal! 


Taça de cristal preto Strauss/Oxford.
Imagem: Centro Comercial Tiradentes


A princípio (naquela época) pensei que as taças de cristal fossem feitas a partir do quartzo, que para mim era o mesmo que cristal. Porém, fiquei imaginando até que ponto seria possível fazer uma taça a partir de uma peça de quartzo no estado bruto e minha ideia mirabolante começou a fazer cada vez menos sentido.

Cristais de quartzo.
Imagem: Cristais Aquarius

Se você é daqueles que pensam que cristal é sinônimo apenas de quartzo, já pode ir se despedindo dessa ideia. 
 
Quando escrevo isso, quero deixar claro que qualquer material pode ser considerado cristal, desde que ele tenha um arranjo ordenado de átomos ou moléculas numa longa distância (na escala atômica). Esse arranjo deve acontecer de tal forma que exista um padrão de repetição que possa ser verificado numa pequena porção do material. Existem casos em que o material apresenta pequenos grãos cristalinos, como se fosse formado por minúsculos cristais. Trata-se de um material policristalino. No caso de o material ser inteiramente cristalino, fala-se em monocristal.

Sais como o cloreto de sódio (NaCl), por exemplo, são formados por cristais. É possível, inclusive, fazer cristais em casa! Nas imagens abaixo podemos ver pequenos cristais de sal formados a partir de uma solução saturada com cloreto de sódio onde adicionei cloreto de ferro III (FeCl3) para dar uma “corzinha” amarelada aos cristais.


Cristais de sal formados em solução saturada
de NaCl com presença de cloreto férrico.
Imagens do autor.
 
Grande parte dos metais e algumas cerâmicas são considerados materiais cristalinos. Outros materiais, como os polímeros, podem apresentar diferentes graus de cristalinidade. Exemplos famosos são o polietileno de alta densidade (PEAD) e o polietileno de baixa densidade (PEBD), sendo este último menos cristalino que o primeiro.

Os vidros, em geral, não são considerados materiais cristalinos, pois a disposição espacial dos átomos torna-se aleatória e desordenada ao considerarmos uma distância significativa na escala atômica. Por esse motivo, fala-se que o vidro é um material amorfo.

Então as taças de cristal não são feitas de cristal?

O termo taça de cristal, a rigor, não é correto. Como as taças são feitas a partir do vidro fundido, trata-se de um material amorfo. Quando desejamos aumentar o brilho, a resistência e a transparência do vidro, podemos adicionar certa quantidade de chumbo (Pb) ou titânio (Ti) ao material. Vidros desse tipo são chamados de cristais em virtude das suas características de resistência, brilho e transparência, parecidas com a de um cristal propriamente dito. Taças desse material são conhecidas pelo som típico (o famoso tintim) durante um brinde. Um dos motivos que as tornam tão charmosas e elegantes.

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