terça-feira, 29 de novembro de 2016

Da teoria do caos à geometria fractal: a beleza dos sistemas caóticos

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Em 1960, Edward Lorenz, um meteorologista do M.I.T., desenvolveu um programa de computador composto por 12 equações simples, numa tentativa de realizar previsões do tempo a longo prazo. Entretanto, o que Lorenz descobriu foi que pequenos erros em um par de variáveis produziam resultados catastróficos, com efeitos completamente desproporcionais. A descoberta de Lorenz foi batizada por ele de “efeito borboleta”, tirada do título de seu artigo publicado em 1979: “Previsibilidade: O bater de asas de uma borboleta no Brasil pode provocar um furacão no Texas?”.

Outro exemplo interessante surgiu na década de 70, quando o biólogo Robert May examinou um modelo simples que fornecia o crescimento de uma população. A equação funcionava de forma que cada resultado anterior ia alimentando a iteração seguinte. O interessante é que dependendo dos fatores utilizados tais resultados eram completamente diferentes do esperado.

Para estes mesmos resultados catastróficos observados, se os respectivos gráficos fossem desenhados, veríamos padrões ou um modelo de organização. Isso demonstra que mesmo os eventos que julgamos imprevisíveis podem possuir um comportamento organizado dentro da natureza. Há diversos exemplos de sistemas caóticos: fluidos em escoamento turbulento, condições atmosféricas, população de insetos, reações químicas, etc. Em tais sistemas, os processos recorrentes ou iterativos numa análise geométrica podem gerar objetos em que suas partes seguem o mesmo padrão do objeto original.  

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Uma ideia parecida pode ser estendida até mesmo para a geografia. Em seu artigo “Qual a extensão da Costa Britânica?”, Benoit Mandelbrot sugeriu que não importava o quanto você se aproximasse do litoral, o grau de imprecisão das medidas pareceria o mesmo. Foi necessário, por isso, ampliar a noção de dimensão dentro da matemática. Mandelbrot introduziu a ideia de dimensões fracionais para descrever a imprecisão que observou em determinados modelos. Em 1975, ele adotou o termo “fractal” (do latim fractus, fração, quebrado) para nomear essa nova geometria dimensional fracional e suas classes especiais de curvas definidas recursivamente.

Em termos visuais, um fractal pode produzir imagens belíssimas. Alguns dos exemplos clássicos são a Curva e a Estrela de Koch, o Triângulo e o Carpete de Sierpinski, o Conjunto de Mandelbrot e a Curva de Peano. 

O vídeo abaixo mostra um zoom num fractal baseado no Conjunto de Mandelbrot. Fica fácil perceber como os padrões se repetem à medida que a imagem é ampliada. Trata-se de uma das proezas mais belas da matemática, sem sombra de dúvidas. 




Fontes:

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Margem de erro em pesquisas: as estatísticas podem realmente falhar?

Imagem: http://www.thecollegianur.com/

Intervalos de confiança

Quando colhemos uma amostra da população, nem sempre os dados daquela amostra irão retornar valores confiáveis sobre o todo. Dentro desse contexto de incerteza que paira sobre os dados,  os estatísticos usam uma ferramenta conhecida como intervalo de confiança para garantir a utilização segura dos resultados obtidos da amostra. Mas o que seria isso?

Um intervalo de confiança de 95%, por exemplo, nos informa o seguinte: se um grande número de amostras for coletado e um intervalo com esse nível de confiança for calculado para cada amostra, 95% deles conterão o verdadeiro parâmetro populacional que estamos interessados em conhecer.

Em pesquisas eleitorais, por exemplo, estamos interessados na proporção de pessoas que votariam em determinado candidato. A pesquisa de intenção de votos é o que pode ser chamada pelos estatísticos de "inferência sobre a proporção de uma população". Geralmente, com base na proporção dos entrevistados nas pesquisas, são construídos intervalos de confiança. 

A margem de erro

A margem de erro está associada ao comprimento do intervalo de confiança. Ao se construir um intervalo, chamamos de amplitude a diferença entre os limites desse intervalo. No caso da pesquisa de intenção de votos, a margem de erro corresponde à metade da amplitude e nos mostra o quanto a porcentagem encontrada na pesquisa pode variar para mais ou para menos. Em outras palavras, nos fala o quanto a pesquisa pode errar (um erro que é aceitável, digamos).

O cálculo do erro para um intervalo de confiança de 95% (o padrão em pesquisas eleitorais) pode ser feito com base na seguinte fórmula: 


onde p é a proporção que se deseja analisar o erro, encontrada na amostra de tamanho n.

O exemplo das eleições americanas

Nas polêmicas eleições americanas que aconteceram recentemente, numa pesquisa realizada pelo New York Times/CBS com prováveis eleitores, considerando os quatro principais candidatos, Hillary e Trump ficaram empatados com 42% dos votos. A pesquisa ouviu por telefone 1433 eleitores em todo o país.

Repare que, pela fórmula acima, em ambos os casos, a margem de erro (o quanto os limites do intervalo se afastam da proporção de observações na amostra) é a mesma: aproximadamente 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Os intervalos de confiança de 95% para a proporção de eleitores com intenção de voto em Hillary e em Trump são os mesmos:

[42% - 3% ; 42% + 3%] = [39% ; 45%]

Como o intervalo é de 95% de confiança, se a pesquisa fosse realizada um grande número de vezes nos mesmos padrões, 95% delas exibiriam intervalos que conteriam a verdadeira proporção de votos nas eleições. 

Agora na prática, quando obtemos uma amostra e calculamos um intervalo de confiança, esse poderá conter ou não a verdadeira proporção de votos do candidato. Não sabemos se a informação é verdadeira para a amostra específica, mas o método utilizado para montar o intervalo resulta em afirmações corretas, no caso, 95% das vezes.

Como você já deve saber, o sistema eleitoral americano funciona de forma diferente do nosso e, apesar de Hillary ter perdido as eleições, ela segue com a maioria do número de votos populares, com 47,7%. Donald Trump aparece um pouco atrás, com 47,4%. Conforme podemos ver, ambas as porcentagens estão fora do intervalo exibido acima.

Ao que tudo indica, uma parcela dos indecisos, que não tinham sequer intenção de voto, acabou mudando todo o cenário das eleições. Respondendo a pergunta feita no título deste artigo: as estatísticas em si não falharam, uma vez que não há 100% de garantia de que o verdadeiro parâmetro populacional cairá dentro do intervalo. Talvez as pesquisas tenham se equivocado ao desconsiderar os possíveis eleitores indecisos ou aqueles que não tinham intenção de voto.

Fontes:

MONTGOMERY, D. C.; RUNGER, G. C. Estatística Aplicada e Probabilidade para Engenheiros. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.


domingo, 6 de novembro de 2016

Os 6 tipos mais comuns de pontes


"Construímos muros demais e pontes de menos." (Isaac Newton)


Ponte é uma construção, mais precisamente uma OAE (Obra de Arte Especial), executada com a finalidade de transpor um obstáculo, garantindo a passagem de pessoas, veículos, animais, etc. Quando o obstáculo a ser vencido não tem água, a ponte recebe o nome de viaduto.

Existe uma série de classificações de pontes, que varia segundo o tipo de material utilizado, comprimento, seção transversal, natureza do tráfego, entre outros. Nossa classificação será feita com base nos tipos mais comuns observados e levando em conta o aspecto construtivo-estrutural:

Ponte em viga: é o tipo mais simples de ponte, formada por uma viga horizontal suportada por pilares em ambas as extremidades. Um exemplo é a ponte Presidente Costa e Silva (Rio-Niterói).


Ponte em arco: nessa ponte a carga é transmitida ao longo da curvatura do arco até os suportes. Este tipo pode ser construído com materiais dos mais tradicionais aos mais modernos. Lembrando que o tabuleiro da ponte pode se situar na porção superior, inferior ou até intermediária do arco. A ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este, no Paraguai, é um ótimo exemplo de ponte em arco com tabuleiro superior.


Imagem: http://viajarpelomundo.com.br/

Ponte treliçada: ponte feita com estrutura de treliça. Seu uso é tão comum que pode ser vista associada a outros tipos de pontes, constituindo um tipo de estrutura mesclada, como as pontes em arco com treliças. Numa ponte treliçada, as estruturas de sustentação são triângulos, conhecidos por garantir estabilidade ao conjunto. Os materiais mais utilizados são madeira ou metal. Um exemplo típico é a ponte Jacques Cartier, em Montreal, no Canadá.

O interessante é que atualmente houve uma reinterpretação das estruturas tradicionais em treliças, o que tem levado à criação de pontes de estilos inovadores, fugindo do formato triangular padrão. Um bom exemplo é a ponte Hans-Wilsdorf, no centro de Genebra, na Suíça.


Imagem: www.flickr.com

Ponte estaiada: tipo de ponte conhecido por possuir mastros de onde partem cabos responsáveis por sustentar os tabuleiros da ponte. É atualmente uma das opções mais comuns quando o objetivo é vencer grandes vãos. Quando os cabos partem quase paralelos uns aos outros, ao longo do mastro, fala-se em ponte estaiada tipo harpa; já quando os cabos de sustentação partem do topo do mastro, fala-se em ponte tipo leque. Um exemplo clássico de ponte estaiada tipo harpa é o viaduto de Millau, na França.

Ponte pênsil ou ponte suspensa: é suportada por um sistema de cabos e mastros. Os cabos principais vão de um mastro a outro formando uma "parábola" (mais precisamente uma catenária). Ao longo dos cabos principais partem cabos de sustentação verticais que sustentam a plataforma. As primeiras pontes suspensas eram construídas em selvas e florestas, feitas com vinhas e trepadeiras (muito comuns em filmes de aventura, estilo Indiana Jones). A Golden Gate Bridge, ou ponte de São Francisco, nos Estados Unidos, é o mais famoso exemplo desse tipo de ponte.


Imagem: www.amazon.com

Ponte em balanços sucessivos ou cantiléver: nesse tipo de ponte as vigas são apoiadas em apenas um pilar (viga em balanço). Mais especificamente, uma ponte cantiléver utiliza duas vigas projetadas horizontalmente que são suportadas em suas extremidades por pilares. As treliças agem suportando o contrapeso do vão. A ponte cantiléver mais conhecida é a ponte Quebec, no Canadá.


Imagem: structurae.net

Para finalizar... afinal de contas, qual a maior ponte do mundo?

Em termos de extensão, a maior ponte do mundo é a ponte de Danyang-Kunshan, na China. Essa ponte, com cerca de 165 km, liga a cidade de Xangai a Nanjing sobre o rio Yangtze e está no Livro dos Recordes (Guinness Book) desde 2012.


Imagem: mhk2013.wordpress.com

Fontes: