domingo, 12 de março de 2017

Menos cinza, por favor! A arte do grafite em meio ao cenário urbano


Tanto o grafite como a pichação existem desde a Idade Antiga e, desde aquela época, já causavam polêmica entre cidadãos gregos e romanos. As palavras grafite e pichação são derivadas do latim, graphium (grafita) e pix (piche), respectivamente. Ambos os materiais utilizados para desenhar e escrever nos antigos muros de Roma. 

Pichação antiga em Pompeia.
Imagem: http://www.italymagazine.com

O grafite é considerado uma manifestação cultural e deve ser feito com permissão do proprietário do muro. É ainda uma forma de arte, uma maneira que o artista possui para se expressar e muitas vezes dar voz às comunidades marginalizadas nas grandes cidades.

Embora arquitetos e engenheiros tenham sua cota de participação na construção do espaço urbano, aqueles que de fato transformam as cidades são as próprias pessoas que vivem nela, aquelas que transitam por suas ruas, avenidas e praças, aquelas que mantêm a fluidez e a dinamicidade em meio ao caos urbano. Num espaço em que as empresas e os negócios ditam as regras, é quase que impossível se fazer ouvido no turbilhão das metrópoles. Haveria melhor forma de expressão do povo não fosse a arte de rua?

Obra do artista Eduardo Kobra em São Paulo.
O grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo.

Imagem: www.bbc.com

Querer apagar o grafite é como “queimar livros”, nas palavras do arquiteto e escritor italiano Francesco Careri. Segundo ele, na América Latina existe uma forte tradição de comunicação por meio de imagens, na forma de murais, assim como as pinturas nas antigas igrejas medievais que ilustravam cenas da Bíblia para os fiéis que não podiam ler.

Para se ter ideia da tradição dos murais latinos, alguns artistas em Los Angeles, durante as décadas de 60 e 70, inspiraram-se nos famosos murais mexicanos e criaram verdadeiras obras da arte contemporânea. Hoje a cidade de Los Angeles é conhecida como a capital mundial dos murais. Seja numa avenida movimentada ou numa vizinhança sossegada, os murais podem alcançar pessoas que muitas vezes não têm acesso à arte de um museu. É por isso que os murais são costumeiramente chamados por seus criadores como “arte do povo”.

Siqueiros: La voz de la gente! Mural em Los Angeles.
Imagem: http://www.discoverlosangeles.com

Aqui no Brasil, num Estado onde a educação é deixada em último plano – o que dizer então do acesso das pessoas a um museu – querer apagar uma forma de expressão artística, que muitas vezes se destaca pela coragem em contestar o “status quo”, é antidemocrático e fere a liberdade de expressão e o acesso à cultura. Definitivamente, o grafite entra ainda como forma de contraposição ao cinza monotônico das cidades. Se podemos enfeitar nossas casas, porque não podemos enfeitar o espaço urbano, deixando-o com a cara de seu povo?

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